quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Hospital ligado à USP veta "parteiras" da USP Leste

Hospital ligado à USP veta "parteiras" da USP Leste

Folha de São Paulo 16/08/2008

Cinco estagiárias do curso de parteiras foram dispensadas no segundo dia de atividade

Estudantes dizem que pressão da chefia da ginecologia/obstetrícia da Faculdade de Medicina, que é parceira do hospital de Sapopemba

CLÁUDIA COLLUCCI DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco universitárias do quarto ano do curso de parteiras da USP Leste foram Dispensadas do hospital estadual de Sapopemba no segundo dia de estágio.

Motivo: suposta pressão da chefia da ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, que seria contra a atuação das parteiras. O Sapopemba é gerenciado pelo Hospital das Clínicas, por meio da Fundação Faculdade de Medicina.

O titular de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina, professor Marcelo Zugaib, nega (leia texto abaixo). "Eu não as conheço."

O curso de graduação em obstetrícia da USP Leste -único do Brasil- forma parteiras, também chamadas obstetrizes. São profissionais que atuam de forma autônoma orientando a grávida, ajudando no parto normal e no pós-parto.

Podem trabalhar em hospitais e em partos domiciliares.

A profissão de parteira ainda é vista com desconfiança - e até com desprezo-por muitos obstetras que entendem o parto como um procedimento médico. Eles só admitem a atuação de enfermeiras-obstétricas - enfermeiras que obtém o título depois de um curso de especialização em obstetrícia - sob supervisão médica.

Na avaliação das estagiárias do Sapopemba (zona leste de SP), essa teria sido a causa para o rompimento do estágio, que iria até o final do ano. A turma de parteiras da USP Leste é composta por 45 alunos, sendo 41 mulheres.

As alunas já passaram por estágios em outras maternidades com tradição em parto humanizado, como o Amparo Maternal, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), hospital geral de São Mateus e o hospital Santa Marcelina. O convênio de estágio entre a USP Leste e o Sapopemba foi assinado neste ano.

Segundo Carla de Almeida Vieira Azenha, 46, representante dos alunos do curso de obstetrícia, na última quarta, ao chegarem para estagiar no hospital de Sapopemba, ela e outras quatro estudantes foram avisadas de que o convênio de estágio havia sido cancelado.

"A funcionária do hospital nos informou que isso ocorreu por solicitação do Professor Marcelo Zugaib", relata Carla. Ainda segundo ela, Zugaib teria Condicionado a permanência da sua equipe médica no hospital - por ser administrado pelo HC, o Sapopemba tem ginecologistas e enfermeiras que são subordinados a Zugaib- à saída das parteiras-estagiárias.

Ontem, a Folha confirmou com representantes do Sapopemba que houve ingerência de Zugaib para o cancelamento do convênio. O médico nega. (leia texto nesta página).

A direção da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste -a qual o curso de obstetrícia é vinculado- informou que fora surpreendida com o fim do convênio de estágio e que havia solicitado informações ao hospital de Sapopemba sobre os motivos do cancelamento, mas até ontem não obteve resposta.

O diretor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, disse ontem, por meio da assessoria de imprensa, que não sabia do assunto, que iria se inteirar sobre ele e se manifestaria na próxima segunda. A Secretaria de Estado da Saúde também informou que desconhecia a polêmica.

"É preconceito. Já estávamos esperando por isso. Estão indo contra tudo o que se preconiza em humanização no parto. Não conseguem enxergar que uma equipe obstétrica pode ter médico, enfermeira e parteira", afirmou a aluna Bianca Alves Amaral, 24, que integra o grupo dispensado.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1608200810.htm

Parteiras eram formadas em curso de medicina

DA REPORTAGEM LOCAL

Até a década de 60, as parteiras profissionais eram formadas na faculdade de Medicina, no curso de obstetrícia, e trabalhavam com os médicos. A partir de 1970, a profissão se tornou uma especialização da enfermagem. Foi aí que começaram os conflitos hierárquicos.

O curso de obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste, criado em 2005, trouxe de volta a possibilidade de formação universitária de parteiras profissionais, situação que já ocorre em vários países da Europa.

Na Holanda, por exemplo, 35% dos bebês nascem em casa, nas mãos das parteiras. O médico-obstetra só entra em cena quando a gestação é de risco. A taxa de cesárea é inferior a 10%.

As obstetrizes holandesas são formadas em curso superior específico de quatro anos, a exemplo do curso na USP Leste. Quando formadas, podem trabalhar com partos domiciliares ou no hospital. (CC)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1608200811.htm

"Nem sei como eu devo denominar essas pessoas da USP Leste", afirma professor

DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Marcelo Zugaib, titular da cadeira de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP, negou ontem que tenha pedido a saída das alunas de obstetrícia do Hospital Estadual de Sapopemba. "Eu não as conheço." Segundo Zugaib, o curso de parteira na USP Leste não tem nada a ver com ele. O professor afirmou ser "super a favor" do trabalho das enfermeiras-obstétricas, que trabalham sob supervisão do médico, mas que não pode opinar sobre as parteiras. "Nem sei como eu devo denominar essas pessoas da USP Leste." A seguir trechos da entrevista à Folha. (CC)

FOLHA - O sr. pressionou a direção do Hospital Estadual de Sapopemba para dispensar as alunas de obstetrícia da USP Leste?

MARCELO ZUGAIB - Não fiz [pressão] nem quero fazer porque não tem nada a ver comigo esse assunto. Meu assunto é a Faculdade de Medicina e a área médica. Não sou eu quem determina se a USP Leste deve fazer estágio aqui ou acolá.

FOLHA - O estágio das parteiras no Sapopemba já estava acertado desde o início do ano. Representantes do hospital dizem que houve ingerência do senhor...

ZUGAIB - Não houve nada disso. A única coisa que eu sei sobre isso [estágio] é que uma vez recebi um e-mail informal de uma pessoa que eu não sei quem é, e eu Encaminhei [o e-mail] ao superintendente do HC. Se ele me perguntasse o que deveria ser feito, eu diria que não tem nada a ver comigo.

FOLHA - O que o sr. acha sobre o curso de obstetrícia da USP Leste?

ZUGAIB - Não emito opinião de mérito sobre o curso. Ele não trabalha nem sob a minha subordinação nem como meu parceiro. Não tem nada a ver comigo. Comigo é a medicina e a enfermagem.

FOLHA - O sr. é contra as parteiras?

ZUGAIB - Eu não as conheço. Sou super a favor da parteira-enfermeira, trabalhando sob supervisão do médico. Nem sei como eu devo denominar essas pessoas da USP Leste.

FOLHA - São obstetrizes, doutor.

ZUGAIB - Para nós, as obstetrizes são as enfermeiras-obstétricas. Apesar de eu ser da USP, em nenhum momento eu participei, nem por interesse nem por
ter sido requisitado, de qualquer discussão a respeito.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1608200813.htm

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