quarta-feira, 4 de junho de 2008

Método "Mãe Canguru" estimula o vínculo mãe e filho e acelera a recuperação do bebê prematuro

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, nascem hoje em todo mundo, cerca de 20milhões de crianças prematuras, ou seja, bebês que necessitam de cuidados especiais e atenção contínua dos pais. No ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde
registrou 9.782 nascimentos prematuros no Paraná.

Para suprir essas necessidades e humanizar a Unidade Intensiva de Tratamento, onde, via de regra, esses bebês permanecem durante um bom tempo, a Maternidade Mater Dei utiliza o método "Mãe Canguru", totalmente coberto pelo Sistema único de Saúde. A Maternidade é a única de Curitiba com essa titulação do Ministério da Saúde e a prática é utilizada desde o ano 2000. "A Mãe Canguru faz com que a UTI e o fato de o bebê ser prematuro não seja tão assustador para a família", ressalta a enfermeira responsável pela unidade neonatal da Mater Dei Sueli Sapanhos.

O método foi criado na Colômbia em 1978 e diminuiu consideravelmente os índices de mortalidade infantil. O primeiro e mais importante passo da "Mãe Canguru" é colocar o prematuro em contato com o peito da mãe, para que ele sinta o coração e o calor, associando essas sensações com o que ocorria no útero materno. Os pais ficam próximos da unidade do bebê e, se a criança tem condições clínicas de sair da incubadora, que é quando não precisa usar respirador e controla bem a temperatura, o bebê é colocado junto com a mãe.

Os pais são incentivados a perder o medo do bebê. "Fazemos com que a mãe se sinta importante para a recuperação da criança. Colocar o bebê no peito da mãe quebra o gelo e aumenta o vínculo", conta Sueli Sapanhos.

Com esse vínculo estabelecido, a equipe, formada por sete pediatras e enfermeiros, começa a mostrar como funcionam os equipamentos da UTI e como é realizada a alimentação, na maior parte das vezes, feita por sonda com o leite materno, que a própria mãe esgota na maternidade com as orientações da enfermagem. Os pais, aos poucos, começam a fazer o trabalho que a enfermagem faz, orientados pela equipe. "Criamos um ambiente aconchegante na UTI. Falam em UTI como se fosse morte, e devemos pensar diferente, nosso objetivo é a manutenção da vida", enfatiza a enfermeira.

A UTI da Mater Dei tem a tecnologia necessária para o atendimento desses bebês e, além disso, o ambiente é preparado para ficar o mais próximo possível do que era no útero, com luz fraca, temperatura controlada e com pequenos "ninhos" dentro de cada unidade. "A tecnologia oferece vida, mas não qualidade de vida. Por isso, o método é aliado da tecnologia", compara Sueli Sapanhos.

A UTI é aberta 24 horas para os pais e a "Mãe Canguru" é feita apenas quando a mãe deseja, nunca é obrigatório. Tanto os pais quanto visitantes são obrigados a lavar muito bem as mãos e a utilizar avental de proteção.

Na segunda fase, um quarto é fornecido para os pais e o bebê, onde eles ficam sem a enfermagem, mas, segundo Sueli, sempre interligados com a UTI. Qualquer dúvida ou problema, a enfermagem da UTI é acionada. Nesse período, o prematuro já tem condições de não ficar dentro da incubadora e começa a sugar o peito da mãe. "Esse quarto é uma continuação da unidade neonatal, ele não deixa de estar internado. Os pais, avós ou irmãos passam o dia todo com a criança".

Depois desses dois períodos, a equipe analisa se a família e o bebê estão bem e inicia a fase ambulatorial, que é quando o bebê ganha alta e continua os cuidados em casa e voltam para uma consulta diariamente. "Se tudo continuar correndo bem e sendo realizado diariamente, o número de consultas diminui gradativamente, mas continuam até que o bebê atinja, em média, dois quilos e meio. A partir daí, eles estão prontos para viverem normalmente", explica a enfermeira. Sueli conta que é difícil os pais desistirem na última fase. "Quem desiste, costuma desistir no início. A família percebe os resultados".
Benefícios

Na incubadora, o bebê prematuro costuma ganhar 20 gramas por dia de peso. Já no método Canguru, ele pode ganhar até 100 gramas e receber alta com 34 semanas, se tiver boas condições clínicas. Já o prematuro que não está na prática, pode sair do Hospital com, no mínimo, 36 semanas. Além do ganho de peso mais rápido, o método evita infecções, facilita a amamentação e a alta hospitalar. A prática também reduz a queima de neurônios em prematuros, diminuindo assim as hemorragias cerebrais e eventuais seqüelas. "É a melhor incubadora que existe", aponta Sueli.

A Maternidade Mater Dei registra 500 nascimentos por mês e cerca de 60 internamentos na UTI neonatal. A equipe neonatal já apresentou o trabalho "Mãe Canguru" feito na maternidade em diversos congressos.

A Mater Dei é Hospital Amigo da Criança e recebeu o Prêmio Galba de Araújo, instituído para reconhecer estabelecimentos de saúde integrantes do SUS – que se destaque no atendimento obstetrício e neonatal.